Cansaço
O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço...
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
Sorria,
embora seu coração esteja doendo
Sorria,
mesmo que ele esteja partido
Quando há nuvens no céu , Você sobreviverá...
Se você apenas sorri
Com seu medo e tristeza, sorria
E talvez amanhã
Você verá o sol vir brilhando para você
Ilumine sua face com alegria
Esconda todo rastro de tristeza
Embora uma lágrima possa estar tão próxima
Este é o momento que você tem que continuar tentando
Sorria,
pra que serve o choro?
Você descobrirá que a vida ainda vale a pena
Se você apenas sorrir
Estou tentando!
Feliz Dia para Quem É
Feliz dia para quem é
O igual do dia,
E no exterior azul que vê
Simples confia!
Azul do céu faz pena a quem
Não pode ser
Na alma um azul do céu também
Com que viver
Ah, e se o verde com que estão
Os montes quedos
Pudesse haver no coração
E em seus segredos!
Mas vejo quem devia estar
Igual do dia
Insciente e sem querer passar.
Ah, a ironia
De só sentir a terra e o céu
Tão belo ser
Quem de si sente que perdeu
A alma p’ra os ter!
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
São goivos, do meu jardim.
Quando Vier a Primavera
Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
(Poemas Inconjuntos, heterónimo de Fernando Pessoa)
Depois de uma semana complicada a nível de emoções, hoje quando me vi um pouco sózinha, peguei na máquina fotográfica e com o vento forte a bater, na cara, fui ao meu jardim e tirei fotos, mas com uma sensação terrível no coração ! O meu pai adorava a Natureza, ele que foi quase como pioneiro no campismo, eu tinha uns 13 a 14 anos e já fazíamos campismo numa roulote, coisa rara naqueles tempos. Agora está naquela cova, , como irei ultrapassar esta dor? eu sei, é a Vida há um nascer, crescer, viver e morrer, no entanto acreditem, tenham a idade que tiverem os nossos deixam uma SAUDADE! UI, nem sei que dizer, no entanto nós vamos aquela sepultura, falar com ele levar-lhe flores, velas, e penso ... e quero ACREDITAR que o meu pai já está noutro plano, se não ? de que valerá nós sermos correctos, amigos, ter e dar AMOR??? Já estou a refilar, deixo-vos com o desejo de Bom Fim de Semana para todos, eu fico aqui, a ver e rever fotos e recordar os anos felizes que vivi com aquele que já está a olhar por nós.